Capriel e Rosiclair
Carregando uma prancheta, um bloco de A3 e seu estojo de desenho, Capriel chegou em casa suando frio. Rosiclair, a empregada, estava limpando o rejunte do piso da sala quando foi abordada pelo jovem, que tinha na voz um tremor impaciente.
– Tira a roupa, Rosiclair.
– Oi?
– Tira a roupa, que eu vou te desenhar!
– Menino, você tá louco? Sou paga para limpar a casa e…
– Tira-a-porra-da-roupa, Rosiclair! Não vou repetir outra vez!
– Mas pra quê isso? Tá drogado, é? Vou ligar agora mesmo para a sua…
– Não mete minha mãe no meio! Tira essa camiseta, anda!
– Ou o quê? Vai me jogar pela varanda?
– É urgente, Rosiclair! Preciso entregar esse trabalho na faculdade…
– Ah, porque não falou antes? Você quer que eu “pouse” pra você?
– Quem pousa é avião. Você só vai ficar quietinha e pelada, Rosiclair.
– Ui, tá nervosinho!
– Tira a cal-ci-nha!
– Não, a calcinha fica! Não quero que você fique aí me desejando…
– Rosiclair, eu não te desejaria nem que fosse a última buceta desse mundo!
– Ah, é? Então não vai desenhar porra nenhuma!
– Olha só, eu preciso entregar esse desenho hoje, senão fico reprovado em desenho anatômico!
– Então pede com educação!
– Você poderia, por favor, tirar a calcinha e fazer uma pose.
– Tá. E como você quer que eu “seje”?
– Sensual sem ser vulgar.
– Dedinho na boca?
– Pode ser. Mas fecha essas pernas, que tem um bife saindo aí de você.
– Ih, tá de onda comigo?
– Não, Rosiclair. Agora fica caladinha pra eu terminar isso rápido.
– Tá legal. Vou Ficar quieta.
Dez minutos depois, Capriel suspirou. Não parecia feliz com o resultado, e tentou novamente. Rosiclair permaneceu quietinha, tossindo vez ou outra, mas por puro nervosismo. O garoto revirou o estojo, amassou a folha em que havia desenhado e jogou no lixo. A empregada, atônita, quebrou o silêncio.
– Que porra é essa? Vai jogar no lixo?
– Não ficou bom!
– Mas sou eu, pelada, Capriel! As pessoas vão saber!
– Só se revirarem o lixo, né? Agora muda a pose, olha ali para o lustre!
– Não! Eu quero ver esse desenho! Me dá essa lata de lixo…
– Por favor, Rosiclair. Volta pra poltrona!
– De jeito nenhum! Acabou a palhaçada, Capriel!
– Impressão minha ou sua calcinha tá com uma freada?
– O qu…
– Toda cagada! Que horror, Rosiclair!
– Foi um acidente! Só tinha açaí com banana e…
– Vou ligar, a-go-rinha, pra minha mãe! Ela vai adorar saber que v…
Tomada pela fúria de duzentas ratazanas no cio, Rosiclair voou para cima de Capriel, derrubando-o sobre da banqueta. Com a mesma agilidade que limpava o limo nos azulejos do banheiro, ela conseguiu imobilizá-lo e sentou em sua cara.
– Sente o cheiro desse rabo sujo, seu filho da puta! Passei anos lavando suas roupas de cama, seu punheteiro! Ficavam tão duras que eu podia quebrar! Que-brar!! Agora vem tirar onda com a minha cara? Não pediu para me ver pelada? Agora você aprende a ser homem.
E naquele dia, Capriel não só perdeu a virgindade como também fez o melhor desenho de sua vida. Ele e a empregada começaram a namorar em segredo, e sua única exigência era que ela estivesse sempre com aquele mesmo ranço de bunda. O amor tem disso, e ninguém pode julgar.