dinheiro, sucesso, fama e glamour
Purezinha nasceu no sertão nordestino, filha de pai carpinteiro e mãe esquizofrênica. Cresceu rodeada de momentos trágicos, e alguns felizes, também. Ficou adulta aos oito anos, quando um bêbedo a levou para um beco e rasgou-lhe a inocência. Dali em diante, nunca mais derramou uma lágrima, e prometeu a si mesma que venceria na vida.
Aos quinze anos, já órfã, seguiu para o Rio de janeiro, onde foi abrigada por uma família em troca de serviços domésticos. Não demorou muito até que conhecesse o Centro, onde aprendeu que oportunidades não aparecem duas vezes para a mesma pessoa. Logo, estava trabalhando como garçonete num elegante bordel da Praça Mauá.
Vinte anos se passaram e Purezinha tornou-se dona de todo o meretrício na zona portuária. Jamais se deitou com outro homem, mesmo que fosse por dinheiro. Abominava a idéia de sentir prazer, e tinha nojo só de pensar em atingir o orgasmo. Em sua maison, as meninas só atendiam grandes figurões da sociedade fluminense.
Em uma noite fria, bateu-lhe a porta uma cabrocha diferente, chamada Jurema. Segundo os médicos, tratava-se de uma semi-anã: normal dos ombros pra cima e da cintura pra baixo. O problema era no meio, onde os seios se confundiam com a cintura. Apesar de não ter tronco, até que era bonita.
Com o peito cheio e dó, Purezinha abrigou-a durante um tempo, até que a mesma resolveu se entregar à luxúria. Por mais que a cafetina refutasse a idéia, Jurema mostrou-se irredutível. Queria trabalhar como as outras meninas, para fazer jus ao teto que lhe fora ofertado. Sem saída, a dona do puteiro combinou que ela cobraria meio-programa, já que a concorrência seria devastadora.
Purezinha não contava com o sucesso de Jurema, que chegou a acumular quinze clientes em uma única noite. A notícia espalhou-se, e logo surgiram mais clientes. Em menos de seis meses, já havia expandido seus negócios até Madureira, onde só atendiam meninas cotós e estrábicas.
Por mais estranho que pudesse parecer, o que seus clientes queriam era o inusitado. Purezinha teve uma vida vitoriosa, e morreu feliz, contemplativa. Deixou todo seu império nas mãos de Jurema, que agora só não atendia a chefes de estado. Há quem diga que existem planos de abrir uma filial em Londres, mas por lá as anãs são mais recatadas.