Delicadamente brutal
Depois de um dia insuportavelmente complicado no trabalho, Edelson guardava sua pasta no bando de trás do carro quando percebeu um pedaço de chiclete grudado no carpete. Ele seguiu remoendo aquilo até chegar em casa, já consciente de quem seria a culpada pela nojeira. Sem explicar direito do que se tratava, ele abordou a filha mais nova e mandou que a menina calçasse os chinelos. Foram para o hall de elevadores, desceram até o estacionamento e chegaram no carro, sem que uma palavra sequer fosse trocada. Ao abrir a porta, no entanto, ele perguntou: “- Lara, esse chiclete é seu?”
A menina relutou um pouco, tentou mudar de assunto, mostrou que havia machucado o joelho na escola e, por fim, acabou admitindo ter cuspido o doce logo após coloca-lo na boca. Edelson, com a delicadeza que não lhe rendia muitos elogios, pegou-a pelo braço e mandou que tirasse o chiclete do tapete. Assustada, Lara raspou com a unha o mais rápido que pôde, e conseguiu retira-lo, mostrando logo em seguida na ponta dos dedos o motivo daquele impasse. “Porque tinha que cuspir o chiclete dentro do carro, minha filha?”, indagou, quase impaciente. “É que esse não faz bola direito e eu, eu achei que…”, respondeu a menina, sem conseguir completar a frase.
“Pois vai voltar com ele para a boca, vai mascar essa porra e ainda vai me fazer uma bola! Agora, Lara!” A criança ficou com os olhos marejados, sem compreender o motivo de tanta revolta. “Se não for por bem, vai por mal”. Pestanejou por alguns segundos, e então colocou de volta a boca. Mesmo com ânsia de vômito e o choro preso na garganta, ela tentou fazer o que pai havia mandando, mas o chiclete realmente não dos melhores. Permaneceram naquele impasse até que ela acabou engolindo a borracha disforme e já sem gosto. Orgulhoso, Edelson a deu a mão à filha e subiram de volta ao apartamento.
Não era exatamente a forma com a qual ele esperava concluir a intervenção, estava com o coração partido ao vê-la segurar o choro. Quem não estivesse inserido no contexto, daria como a ridícula a reação de Edelson. Mas, com aquela atitude aparentemente impensada, pelo menos, Lara teria um motivo real para odiá-lo até o final de sua adolescência. Não seria em vão. E, de quebra, ele não precisaria melecar a mão para limpar o carpete.
Fã número 1 do Edelson.
Ele deve lançar seu primeiro single em breve… rs rs rs
Edelson é um otário. Não me causaria surpresa um post futuro dizendo que Lara planejou com sua namorada a morte do pai.
Talvez eu faça um flash-forward de Lara e Edelson. Mas o que tenho em mente vai muito além do que você imaginou. 😛
nossa… pegou pesado hein?
se incomodou aqui é porque o conto tá muito bem escrito!
Maria, esse conto é para incomodar mesmo. Parcialmente inspirado em fatos reais.
Olha, é claro que o Edelson aí é um caso de extremos. Mas quando digo que sou fã é porque ele é um pai que dá à filha um pouco de noção, coisa que praticamente criança (e adolescentes e…) nenhuma tem hoje em dia. Por isso eu discordo do Fernando neste caso, e ao invés de matar o pai com o namorado no futuro, acho que a Lara vai ser é uma adulta bem resolvida e bem grata ao pai.
Enfim, não é pra render tanto né?
Parabéns, Rafael, bombando!
🙂
Só uma observação nada a ver, o Cinebuteco no seu blogroll tá CieNbuteco.
😛
Abração!
Oooooooooooops! A dislexia é um dos pratos da casa!
Não é namorado não… é namorada!!!! hehehe
Lara tá mais pra sociopata solteirona, que bebe Listerine e freqüenta rodízio de petiscos.
Existe a possibilidade dela ouvir discos da Maria Gadu, mas ela gosta mesmo é do Revelação.
Hahahaha, vocês me matam de rir! E minha lerdeza, sem comentários, não vi que era namorada!
Agora você vai ter que fazer a sequência do post, Rafael!