Mojo
Zélia tirou da bolsa um drops de menta, daqueles que são vendidos nos cinemas. Ficou na dúvida se deveria, ou não, esperar nua debaixo dos lençois, pois o ar condicionado estava ligado no máximo. Chupou duas balas antes de Evailson sair do banho, e resolveu deixar para que ele mesmo a despisse. Primeiro com os olhos, depois com as mãos rudes de estivador. Matreira, ficou só de corset, rolando pelo carpete, tal qual uma gata no cio – na verdade, havia bebido duas doses de absinto antes de sair de casa, mas não chegou a contar isso ao seu companheiro de concupiscência para não desvirtuar o clima de sacanagem que envolvia toda a situação. Depois do divorcio, passou alguns anos sem se relacionar com outros homens e estava sentindo-se enferrujada. Cultivou uma paixão solitária por si mesma, e passou a escrever uma série de contos eróticos, os quais publicava com enorme sucesso numa revista feminina ( e por muitas vezes “ista”).
Estava sem boas idéias naquela semana, e os prazos começavam a ficar mais curtos. Não tinha nada de muito interessante para ser enviado ao editor dentre os textos que mantinha reservados numa caixa vermelha, à beira da escrivaninha. Aqueles, mais intimistas e rebuscados, só sairiam dali anos mais tarde, numa compilação de obras inéditas: pois sim, ela planejava publicar seus escritos num livro de lombada quadrada e ganhar muito dinheiro com as vendas. Naquele momento, entretanto, ela precisava urgentemente de um plot. E a melhor solução foi vive-lo. Seria uma aventura erótica, com pinceladas de romantismo e clima de entrega total. Sabe-se lá como, a partir desse escopo rascunhado numa folha solta de caderno, Zélia foi parar no cais do porto, calçando escarpin vermelho e uma vontade uterina de ser brutalmente preenchida por alguém que jamais esbarraria ao acaso.
Ele estava debruçado sobre um container, com a camiseta encharcada de suor. Não demorou muito para que Zélia o abordasse: fingiu estar perdida e até forçou algumas lágrimas. Apresentou-se como Terezinha, e forjou toda uma vida fictícia para embasar sua aventura. Apesar de bruto, Evailson era um homem que sabia como fazer uma mulher feliz, e tinha fama de envolve-las somente com o olhar. Foi só ela dar brecha que o brutamontes roubou-lhe um beijo. E dali para o motel, foram a pé. Um muquifo, se comparado aos que a madame costumava freqüentar em seus flertes de outrora. Naquele momento, entretanto, era mais do que apropriado. Ela provou o gosto de seu beijo suburbano, regozijou com sua pegada firme, gozou litros de tensão acumulada e ainda recuperou seu mojo perdido.
Será que depois a gente vai ter acesso ao artigo que Zélia precisa enviar para os editores? Este texto promete, hein?
Zélia é cautelosa, e provavelmente vai me pedir para revisar o texto. Daí eu escaneio e posto aqui… rs rs rs
Legal! Não posso perder.
Zélia escreve pra NOVA??? Ou pra MARIE CLAIRE???
Adorei! Confesso que fiquei levemente excitado, rs.
Detalhe, e eu li o texto inteiro achando que tinha algo a ver com miojo. Depois que li o título direito (dã!).
Miojo?!?
Taí uma coisa que Zélia jamais comeria!
E quanto a revista, não posso revelar o nome.
Zélia jamais permitiria que eu revelasse seu verdadeira identidade… 😉