Pela Janela
Coloquei a cabeça para fora do peitoril e vi o escândalo que ela aprontava lá na rua. Toda descabelada, vestindo apenas uma camisolinha de algodão, Guaraciara chegava a espumar pela boca. Descalça, ela surgia por entre os arbustos e se agarrava aos transeuntes, vociferando palavras desconexas enquanto os sacudia pelos ombros. E a doida apontava para minha janela, sem perceber que eu, atônito, observava àquilo tudo com um certo pavor.
Algumas pessoas sequer conseguiam entender o que ela dizia, tamanho seu estado de perturbação. Batia com a cabeça na amendoeira e se pendurava nas grades de ferro que cercam a portaria do prédio, como se tivesse incorporando a macaca . Uma senhora chegou, inclusive, a empurrá-la contra a banca de jornal. Mas Guaraciara nem se intimidou. Ficou até mais enlouquecida e desavergonhada: arrancou sua calcinha suada e esfregou na cara de Josué, dono do salão de cabeleireiros aqui de baixo.
Os vizinhos devem ter pensado que eu traí a maldita, ou coisa do gênero. Nada disso. Só fiz um comentário levemente malicioso a respeito de seus seios. Nada demais, só que eles estão, de fato, meio caidinhos. E a maluca, que não consegue receber uma crítica sem perder o controle, acabou surtando. Descobri que ela riscou todos os meus discos do Caetano e me rogou uma praga com batom vermelho na parede do banheiro. Mas tudo bem… ela quem vai limpar tudo mesmo…
pessoa, vc enfia uns detalhes tão, mas tããão suburbanos nestes textos, como: amendoeira!
hahahahaha
adorei a amendoeira!
coisa de artista mesmo!!!
E na amendoeira tem aquelas flores feitas com tampinhas de refrigerante, saca?
Porra, são esses retratos do cotidiano à papel e caneta que permanecem tanto quanto uma boa fotografia. Grandes crônicas por aqui, amigão.
Abraço!
Acho que é por causa desses seus detalhes que você parece tão próximo. Conhece o Cachoeirinha, em TuBHcanga, sem nem nuna ter vindo aqui, hehehe.
Muito bom, Rafael.