Não, eu não sou sapatão
É sempre assim: você não fez nada demais, mas aparece alguém insinuando alguma gracinha. As pessoas querem fazer refresco com néctar de pedra, e um dia o feijão acaba passando do ponto. Um telefonema para a mãe foi motivo de revolta para Themis.
– Oi, mãe. Recebei sua mensagem. Tá tudo bem?
– Sim, tudo bem. Vi seu facebook e fiquei preocupada.
– Com que? Não vida nada estranho.
– Ah, tem um negócio estranho que você colocou lá…
– É vírus?
– Não, é uma foto.
– Foto? Com quem?
– Filha, me diga uma coisa. Só entre a gente…
– Que foi, mãe?
– Você é sapatão?
– Oi?
– Você gosta de mulher? Transa com alguma?
– Mãe! Eu não sou sapatão!
– Você enfia essa boca no suvaco de cobra, Themis?
– Mãe! Que absurdo! Para com isso!
– Você gota de buçaralha, né? Pode confiar, não julgo!
-Ai, meu deus… era o que me faltava!
– Mas, filha, eu te conheço…
– Então a senhora me pariu errado. Eu gosto é de homem.
– Sei não… pra mim você é sapatão.
– Tchau, mãe!
– Tchau, meu amor. Manda um beijo pra sua namorada.
Cansada de responder sempre às mesmas insinuações, Themis fez um cartaz e foi para o protesto na Rio Branco: “NÃO, EU NÃO SOU SAPATÃO”. Fez o maior sucesso. Beijou mais de quinze moços descamisados, e ainda levou um para casa. Depois de transarem, ele perguntou se ela era toparia participar de uma surubinha no fim de semana, com uma amiga bi. Themis começou a pensar que existe uma conspiração contra sua heterossexualidade. Por via das dúvidas, ela marcou depilação para sexta-feira.