Dinamismo conjugal
Ela estava debruçada sobre o peitoril, limpando o vidro da janela com um chumaço de jornal amassado, quando Carlos saiu do banheiro. Visivelmente desorientado, ele sentou-se no sofá e chamou a esposa.
– Quero falar contigo.
– Oque houve, amor? Algum problema?
– Sim, dos grandes!
– Er… o que foi?
– Eu vou falar só uma vez, e não vou repetir, Izenilce…
– Fala!
E Carlos ficou calado, com as mãos juntas, olhando para o teto. O tom de sua voz era quase mórbido. Angustiada, a mulher tentou aproximar-se, mas foi abruptamente repelida. Com um semblante preocupado, ele sussurrou:
– Me contaram que você trouxe o Seu Zé aqui…
As pernas de Izenilce se desencontram, e ela foi ao chão. Com os olhos marejados, esticou uma das mãos e segurou no braço do marido. Soluçando compulsivamente, revelou:
– Eu confesso, Carlos! Eu confesso! Trepei com o pedreiro!
– …
– Por favor, Carlos! Me perdoa! Diz alguma coisa!
Olhando firmemente nos olhos da esposa, Carlos cerrou os punhos, respirou fundo e levantou-se do sofá. Permaneceu assim por alguns minutos, e então abaixou-se. Segurou-a pelos ombros, abrindo um sorrisinho irônico.
– Então… o pedreiro só veio aqui pra te comer?
– Sim, mas foi só uma vez, coisa de momento. Me perdoa?
– Ufa! Que alívio!
– Hein?
Izenilce não conseguia acreditar no que tinha ouvido. Sacudiu a cabeça, como se o cérebro precisasse de uma ajuda para processar a informação. Depois de algumas gargalhadas, Carlos, enfim, desabafou:
– Por alguns segundos achei que você já estava me arrumando mais uma obra aqui pra casa!