Sobre o tempo
– Não vai dar mais pra gente continuar, Marcelo.
Debruçada sobre o peitoril da janela, Gabriele observava os carros passando pela Avenida Edgard Romero, totalmente apática, com o olhar perdido. O sol, já estava se pondo, deixando o céu e seu rosto com um tom alaranjado. Abriu a mochila, tirou um maço e acendeu o cigarro; precisava urgentemente de um trago. Atirou o palito com um peteleco e acompanhou sua trajetória, até atingir a calçada. Deu uma longa baforada e sentiu a nicotina impregnando sua corrente sanguínea. Calçou a sandália e arrumou o cabelo em rabo-de-cavalo. Aos poucos, foi sentindo-se mais relaxada e, só então, conseguiu desabafar.
– Ainda não vestiu a porra da cueca, Marcelo? Esse motel é caro, e a gente vai acabar tendo que pagar outro período, seu lesado.