Compartilhando sonhos
Eduarda esperou a chuva parar e, só então, saiu de casa. Calçando galochas de borracha, pulou por sobre as poças d’água que se multiplicavam pela rua, até chegar a padaria do quarteirão de baixo. Estudou cuidadosamente a vitrine de doces, onde expunham bombas de chocolate, mil-folhas de caramelo e enormes brigadeiros.
Certeira, escolheu um sonho de creme com bastante recheio e pediu que fosse embrulhado para viagem. Observou, aguardando pacientemente, a meticulosidade da mocinha ao envolver o doce num filme plástico, que depois seria colocado dentro de uma embalagem colorida.
Ela pagou com um punhado de moedas, como de costume, pois odiava andar com a bolsa tilintando. Guardou o embrulho no largo bolso de seu blusão de moleton, e pulou para a calçada. E então retornou pelo mesmo caminho, tomando cuidado para não se sujar com a lama que era atirada nos transeuntes pelos estrupícios motoristas.
Subiu as escadas levemente afoita e, ao abrir a porta da sala, viu que o namorado continuava tirando seu cochilo no sofá. Ela sentou-se no tapete e pôs-se a observá-lo. Acariciou seu rosto, com cuidado, até que ele despertasse. Sonolento, o rapaz custou a abrir os olhos, mas quando o fez, ilustrou-se com um largo sorriso.
Os dois namoraram por longos minutos, sem dizer uma palavra sequer. Ainda em silêncio, Eduarda desatou o barbante e descobriu o doce, que dividiram até lamber os dedos. Mais tarde voltou a chover, e eles compartilharam outros sonhos… mas quem fez a festa foram as formigas, que devoraram o papel melado no chão frio da sala.