Desinibida
Érika salvou a planilha do Excel, largou o mouse e levantou-se de sua baia. Desceu cuidadosamente as escadas, passou pela recepção em silêncio e chegou à rua. Foi caminhando pelo sol, tirando suas roupas a medida que o calor aumentava. Ficou nua em pêlo até beirar a rodovia, e então parou. Por alguns segundos, parecia estar em transe, enquanto um grupo de pessoas se aglomerava nas imediações. Do alto da passarela, um pedinte a chamou de “gostosa”, no que ela respondeu com um salto duplo no asfalto. A platéia abobalhada aplaudiu e ela deu outros mortais. Os carros, em altíssima velocidade, tentavam desviar daquela inusitada situação, mas a sorte não durou muito. Um caminhão a esfarelou, deixando a paisagem da Rio-Petropolis intensamente avermelhada. Era fim de tarde, e ela havia descoberto, por email, que sua cor de esmalte favorita fora descontinuada pelo fabricante. Um fim trágico, mas ela não podia mais viver naquelas condições. Coisas da vida, sabe…