Não estamos mais no Leblon
O som dos passarinhos farfalhando pelos galhos da aroeira não deixava dúvidas: aquele seria um belo dia ensolarado. As crianças deviam estar no colégio, pois não havia um pipa no céu. Resolvemos nos aproximar de uma casa amarela, com portão de madeira e varanda cimentada. Pelas cortinas estampadas com motivos silvestres, podemos observar que Ofélia e Adelaide estão animadas com os preparativos para o jantar. Mãe e filha seguem conversando em direção a copa, onde será posta a mesa. A casa, tipicamente suburbana, é tomada pelo cheiro de manjericão que escapa do forno.
– Você viu que a manteiga está mais barata no Mundial, Adelaide?!
– Vi, sim! Comprei cinco tabletes hoje cedo, quando voltava da Ioga.
– Ótimo! Assim não ficaremos sem manteiga! Todas com sal, né?
– Isso mesmo, todas com sal. E eu ainda trouxe um ramo de hortelã.
– Hmmmm… para quem não gostava de ir às compras, você está se saindo muito bem.
– E este cheiro… está uma delícia, mamãe. O que teremos para o jantar?
– Bom, eu estou preparando um empadão de tomates secos com ervas finas e sopa de palmito.
– Mas empadão não combina com sopa, não tem nada a ver…
– Claro que não, Adelaide. Mas quem quiser comer empadão, com empadão de tomate seco.
– E quem quiser comer sopa de palmito, come sopa de palmito!!
– Isso mesmo! Não é ótimo, minha filha?!?
– Genial! Adorei a idéia!
– A Helena vem? Por acaso… você a convidou?
– Não, aquela vaca marcou um rodízio japonês com o pessoal do pilates…
As duas caem na gargalhada e rolam pelo chão, com o que parece ser uma piada interna. Não sabemos ao certo o que poderia haver de tão engraçado, mas mãe e filha chegam a ficar de olhos marejados. Adelaide tem uma crise de bronquite, enquanto sua mãe nota que molhou a calcinha de tanto rir. O cachorro do vizinho é atiçado pela gritaria e começa a latir em círculos, mas logo se aquieta. Helena surge na janela e o olha com desprezo, pondo fim na bagunça. Olhando do alto, com o por do sol emoldurando suas fachadas de chapisco, poderíamos jurar que a vida daquelas pessoas era ditada pela mediocridade.
E pra rir tem que ter motivo??? Gostei de Ofélia e Adelaide… cascaram o bico sem motivo aparente.
Quem ri de si mesmo vive mais!
Adorei o texto, rafael!
mas não abandonam esse ranço zona sul, né?
e não é empadão… é “quiche”. hahahahaha
Faço minhas as palavras do Fernando, rs, muito bom.