Entre tapas e bolas
Noite de núpcias, com chuva e vapor quente subindo do asfalto. Estavam deitados na cama, levemente embriagados, depois da festa de casamento. Edmundo olhou para Cristina e, ao vislumbrar seu sorriso mole, deu-se conta de que aquela boca já havia beijado outros homens, aquela vagina já havia sido deflorada por outros homens, e aquele amor já havia sido declarado a outros homens.
Num rompante de fúria, deu-lhe um tapa na cara. Chamou-a de vagabunda, piranha, sirigaita! E deu mais um tapa, agora estalado. Sem compreender tal violência, Cristina fugiu pela porta e procurou abrigo no saguão do motel. Magoada, ligou para a polícia a prestou queixa. Depois vieram as sirenes, as perguntas e a vergonha. Vestida de noiva, naquela chuva abafada, com lama nos pés e um casamento desfeito, a moça finalmente chorou.
Mas, não… Cristina jamais deixaria sua história acabar assim, como que num folhetim escrito aos garranchos. Recomposta, decidiu retirar as queixas, dispersou a multidão e chamou Edmundo de volta ao quarto. Em dois instantes, já estava completamente nua e rebolativa. Ofereceu-se para o marido ao som de um pagode antigo do Raça Negra, que escapulia do radio e fazia fervilhar as lembranças daquele romance nascido num churrasco comunitário.
E quando o camundongo finalmente mordeu o queijo que repousava na ratoeira, ela mostrou-lhe do que era capaz uma garota nascida e criada em Irajá, com remorso no coração e sem nada a perder: arrancou-lhe os ovos com os próprios dentes, ganhando ares de vampira pornográfica. E como se não bastasse vê-lo contorcendo de dor, Cristina ainda aumentou o rádio para sambar a vitória sobre o sangue que derramara no carpete.
Este causo ficou conhecido como o “Ataque da Noiva Sangrenta no Motel Oklahoma”, que acabou se transformando em roteiro de filme e, quem diria, até concorreu em Cannes. Edmundo nunca mais foi visto, e há quem diga que morreu de desgosto. Cristina, por outro lado, continua bem viva: é beijada por vários homens, tem a vagina deflorada quando bem quer e se declara para qualquer um que a trate como princesa.
Viva Cristina!! Maria da Penha é para as fracas!!
garota sangue bóón!
Ê, Seu Rafael, você é muito louco. Eu ri demais aqui, pra variar. Pior foi ler isso imaginando a cara da Cristina Mortágua e do Edmundo. Achei que a revanche seria engravidar e parir um loucão, rs.
Mas, olha, eu sei de um caso real que colocaria essa Cristina aí no chinelo. Depois escrevo e te conto.
Bjão!