A paz que vem do escondidinho
Dagoberto já estava de saco cheio do casamento, mas não tinha coragem de pedir o divórcio. Ter que sair de casa, comprar nova mobília, pagar pensão: era muito trabalho. Se ao menos a esposa arrumasse um amante e sumisse do mapa… mas nem isso. Como não havia outro jeito, ele apelou.
Deise chegou do trabalho xingando até as plantas, e não queria ver o marido nem fantasiado de Murilo Benício. Surpresa: ela deparou-se com a mesa posta, velas acesas e Kenny G no cd player. Sem entender o porquê de tamanha palhaçada, acabou encontrando Dagoberto na cozinha, com uma travessa quentinha na mão.
Engolindo todo seu azedume, Deise sentou-se à mesa e ficou observando o marido servir o jantar. Sem trocarem mais do que cinco palavras, abriram um vinho e se serviram. Dagoberto estava sorridente, enquanto ela tentava descobrir do que era feito o escondidinho. Deise, enfim, retomou o diálogo: “Tem camarão nessa porra, seu filhadaputa?!”
Pois bem: a megera tinha alergia a camarões. Como ela não perguntou do que era feito, Dagoberto também não se atreveu a dizer. Ele ficou observando a esposa inchar, até perder os sentidos. Não demorou mais do cinco minutos para ela bater as botas. Se alguém perguntasse, ele diria que ela trouxe o escondidinho da rua.
Dagoberto, enfim, encontrou a paz num caderninho de culinária.